23 AUTOMÓVEL Segundo Gonçalo Tomé, as empresas portuguesas têm demonstrado capacidade de adaptação a estas mudanças. “As empresas que já trabalham no setor automóvel estão habituadas a antecipar as necessidades do mercado e a lidar com pressões normativas há bastante tempo”, afirma. Apesar deste sentimento de confiança, o representante da APIP reconhece que a implementação das metas europeias exigirá esforços adicionais, nomeadamente no acesso a plásticos reciclados de qualidade e na criação de processos de rastreabilidade mais eficientes ao longo da cadeia de valor. A disponibilização de plástico reciclado de qualidade depende de fatores externos. Atualmente, a maior parte do plástico utilizado na indústria automóvel portuguesa é importada de países como Alemanha e Coreia, o que aumenta os custos e a pegada ambiental. Adicionalmente, muitas empresas portuguesas já implementam práticas de ecodesign, incluindo informações sobre reciclabilidade nas peças de plástico automóvel há mais de 20 anos. Embora a reciclabilidade não seja uma novidade, as metas obrigatórias devem acelerar essas práticas e consolidar a economia circular. Embora as empresas estejam a avançar no cumprimento das metas de sustentabilidade, a sua capacidade de inovação será determinante. As mudanças exigem o desenvolvimento de novos métodos de fabrico, o uso de plásticos técnicos reciclados e a integração de ferramentas de simulação que reduzam o desperdício na produção. DESAFIOS DA CADEIA DE FORNECIMENTO Um dos maiores obstáculos para alcançar as metas é a disponibilidade de plástico reciclado de qualidade e em quantidade suficientes. Embora a indústria automóvel seja um dos maiores consumidores de plásticos técnicos, a reciclagem de materiais pós-consumo ainda enfrenta grandes desafios. Gonçalo Tomé alerta que o mercado de reciclados já está sob pressão de outras indústrias e que será necessário um esforço conjunto para evitar especulação e garantir a certificação da origem dos materiais. Além disso, algumas peças, como módulos de airbags, exigem plásticos virgens para garantir a segurança e o desempenho. “Não vejo, por exemplo, um módulo de airbag ser feito com material reciclado que possa comprometer a estabilidade e a segurança”, afirma. A rastreabilidade dos materiais reciclados também é um ponto crítico. Segundo a proposta, cada componente deverá ser identificado com maior precisão, algo que depende de avanços tecnológicos na separação e tratamento dos resíduos. Os automóveis de luxo, frequentemente compostos por materiais de alta qualidade, levantam questões sobre reciclabilidade. Peças que combinam diferentes materiais, como pele sintética ou natural com substratos de polipropileno, dificultam a separação e reciclagem, tornando-se um desafio ambiental. PESO DA ELETRIFICAÇÃO E O PAPEL DOS PLÁSTICOS A transição para veículos elétricos apresenta desafios e oportunidades para os plásticos. A necessidade de reduO EXEMPLO DA SKODA No congresso internacional VDI PIAE (Plastics in Automotive Engineering) deste ano foi exibido um 'concept car' denominato IVET, desenvolvido pela Skoda para demonstrar 20 aplicações com materiais reciclados. Uma das soluções interessantes que o carro apresenta em vários locais é um novo conceito de multi-camada monomaterial, ou seja, em que todas as camadas são quimicamente o mesmo material, apenas fabricadas com uma tecnologia diferente, de modo a terem propriedades diferentes. Por exemplo, na produção dos estofos pode ser utilizado rPET para fabricar duas camadas, coladas com a mesma base adesiva, o que faz com que estes elementos possam ser reciclados como um todo. De um ponto de vista prático e funcional, a Skoda acredita que o utilizador não conseguirá distinguir entre materiais reciclados e convencionais. Para a produção da prova de conceito foram utilizados resíduos de embalagens de iogurte (no revestimento do interior das portas), colchões de poliuretano usados (em peças de isolamento acústico e amortecimento do chão do veículo), caixas de baterias de automóveis (na coberturas dos arcos das rodas, no suporte de fecho do capot e na proteção do canal de água sob o para-brisas), material de para-choques antigos (nos novos para-choques), borracha reciclada (na vedação da porta) e até óleo de cozinha reciclado (na proteção da soleira do carro).
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