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Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa
“Os desafios que vamos enfrentar no futuro próximo não terão paralelo com os do passado recente”

Entrevista com Amaro Reis, presidente da APIP

Luísa Santos10/06/2020

Nos momentos de crise, salta à vista o que é realmente importante. A pandemia de Covid-19 veio colocar em evidência não só a relevância dos plásticos para a proteção da saúde pública, mas também que o real problema da poluição marítima está no comportamento da população e não no material. Nesta entrevista, Amaro Reis, atual presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) analisa as consequências desta crise para a indústria que representa e alerta para a necessidade de implementação de medidas de apoio à competitividade do setor.

Amaro Reis está à frente da Direção da APIP deste março de 2019
Amaro Reis está à frente da Direção da APIP deste março de 2019.

A APIP tem uma longa história ao serviço da indústria de plásticos portuguesa. Fale-nos um pouco do trabalho desenvolvido pela associação ao longo dos anos.

De facto, assim é! A APIP é a associação de referência da indústria dos plásticos em Portugal. Ao longo de 45 anos de atividade tem procurado corporizar as diversas empresas que constituem o setor, de natureza bastante heterogénea, naquilo que lhes é comum, que é o processamento e distribuição de materiais poliméricos, defendendo os seus interesses.

À semelhança de qualquer outro setor, também a indústria de plásticos evoluiu de forma significativa, registando, nos últimos anos uma assinalável progressão tecnológica. O setor dos plásticos tem, hoje, uma importância extrema para a economia nacional, sendo formado por cerca de 1.000 empresas, essencialmente PME’s, que empregam mais de 24.400 trabalhadores, gerando um volume de negócios na ordem dos 5 mil milhões de euros, o que se traduz em 2,5% do PIB nacional.

A razão da existência de qualquer associação reside nos seus associados e é nesta linha de pensamento que a APIP tem desenvolvido a sua atividade, onde se destacam algumas áreas consideradas ‘core’, como sejam:

  • Prestar informação sobre as áreas legislativa e regulamentar, nacional e comunitária, bem como as tendências e estratégias europeias que possam ter impacto sobre o setor, posicionando-se e atuando em defesa dos seus interesses;
  • Apoio e pareceres específicos sobre questões de índole jurídico-laboral, no contexto do contrato coletivo de trabalho da indústria química, pelo qual se rege o nosso setor;
  • Fornecer informação técnica de acordo com as diversas áreas que constituem o setor, hoje representadas por cada uma das vice-presidências que constituem a direção da APIP;
  • A atividade ligada à área da normalização do setor, conferindo uma indispensável ferramenta técnica às empresas para a garantia da qualidade, segurança e adequação à função dos seus produtos, a qual atua igualmente como um vetor que promove a circularidade e sustentabilidade dos plásticos;
  • Paulatinamente, a APIP tem procurado retomar a área da formação, estando atualmente em processo de certificação enquanto entidade formadora, a fim de poder dispor de uma oferta formativa indo de encontro às necessidades dos seus associados e outras partes interessadas;
  • Por último, de destacar a organização de eventos, em particular o evento anual do setor, hoje sob a forma e designação de um Plastics Summit, onde se procura dinamizar a indústria dos plásticos, trazendo a debate os temas que estão na ordem do dia e que são de interesse comum.

A atual direção da APIP foi eleita em 2019. Que balanço faz deste primeiro ano e que objetivos foram alcançados até agora?

Foi um primeiro ano com mudanças importantes, que nos permitem fazer um balanço muito positivo do trabalho realizado, assentes num novo posicionamento estratégico. Desde logo, a concretização de uma série de objetivos que visaram dotar a APIP de valências, de modo a estar preparada para enfrentar os desafios atuais e futuros: o aumento crescente do número de Associados; o incremento de contactos e reuniões com organismos governamentais, associações industriais, universidades, ONGs e outras entidades a nível nacional e europeu; a participação nos principais eventos relacionados com a cadeia de valor do plástico; a presença mediática da APIP na imprensa e redes sociais; e a renovação da imagem da APIP.

De destacar ainda a organização e realização do Plastics Summit, a definição de uma nova identidade e imagem, e o lançamento de uma importante iniciativa setorial liderada pela APIP: o Pacto Nacional da Indústria dos Plásticos para a Economia Circular e Sustentabilidade, apoiado institucionalmente pela APA e DGAE, e do qual constam um conjunto de ações que permitirão ao setor dar o seu contributo no que concerne à preservação do ambiente e eficiência dos recursos.

Resumindo, colocar a Indústria como parceiro indispensável para a defesa do meio ambiente, junto com todos os stakeholders, Governo, ONG’S, Universidades, Produtores.

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No ano passado, a associação também mudou o logotipo de décadas e o formato do seu principal evento… Que razões motivaram estas alterações?

De facto, sentimos que era importante promover algumas mudanças que acompanhassem o novo posicionamento da APIP.

Desde logo a renovação da sua identidade visual, onde se pretendia que a nova imagem, novo logotipo pudesse transmitir modernidade, simplicidade, clareza, versatilidade e dinamismo da indústria de plásticos, em linha com a missão e valores da APIP, onde as cores laranja (fundação / passado), verde (sustentabilidade / ecologia) e azul (Lealdade / fidelidade) traduzem essa mesma ligação.

Paralelamente, entendemos que o formato do principal evento anual da APIP, também ele carecia de uma mudança, acompanhando as novas tendências organizativas, nascendo a ideia de transformarmos o seminário anual da APIP num Plastics Summit. Um evento que fosse aberto não só às empresas da indústria dos plásticos mas a todas as partes interessadas que contribuem para a cadeia de valor do material, onde se englobam igualmente as universidades, as associações ambientalistas e poder político e governativo e que se afirmasse. Adicionalmente, era nossa pretensão que o Plastics Summit se afirmasse como o principal fórum de reflexão e discussão dos desafios e oportunidades que se colocam à indústria e o próprio material plástico para atender aos desígnios da Economia Circular e da Sustentabilidade. Creio que foi uma aposta ganha, onde os números falam por si.

Estamos convictos que foram passos importantes, necessários e que deram um novo impulso à APIP e à indústria dos plásticos, num momento em que várias têm sido as estratégias e regulamentações sobre os plásticos e onde naturalmente, enquanto parte interessada pretendemos contribuir para as soluções que se venham a revelar as mais sustentáveis.

Estas mudanças tiveram efeitos no número de associados da APIP? Quantos são, neste momento, os aderentes?

De facto, sentimos esse efeito. Os pedidos de adesão para novos associados da APIP têm sido regulares. Desde a tomada de posse da atual Direção que o número de novos associados tem aumentado significativamente, traduzindo-se num crescimento de 35%. Atualmente a APIP possui um total de 142 associados.

O setor tem vivido tempos conturbados, primeiro com o ataque da opinião pública que considera este material o causador da poluição marítima e agora com a diminuição da atividade económica causada pela pandemia de Covid-19. De que forma tem a APIP apoiado o setor na luta contra estas adversidades?

Todas as ações que a APIP desencadeou foram pautadas sempre por muito profissionalismo. Na primeira situação sentimos a necessidade premente de reunir com diversos stakeholders, nomeadamente: organismos governamentais, associações industriais, associações ambientalistas, universidades, entre outras entidades, incluindo europeias, de modo a percecionarmos a sua visão e posicionamento face a tais “ataques”, onde tivemos a oportunidade de prestar os devidos esclarecimentos e posições da indústria, na procura constante de desmistificar muito dos argumentos veiculados. A este nível, há ainda a destacar a presença assídua da APIP enquanto orador em inúmeros eventos, conferências, seminários e workshops onde se procurou, do ponto de vista comunicacional, sensibilizar as audiências para muita da contrainformação e inverdades que repetidamente eram ditas, desmontando esse argumentário.

No que respeita à crise pandémica, para além dos diversos inquéritos que promovemos junto dos nossos associados, procurando aferir o real impacto do Covid-19 na atividade das empresas, a APIP procurou ainda, junto das diversas instâncias políticas e governativas, transmitir as diversas preocupações da indústria com a apresentação de propostas para salvaguardar os interesses do setor, nomeadamente as linhas / programas de financiamento e os cortes generalizados das seguradoras de crédito, etc.

Paralelamente, a APIP apoiou ainda diversas parcerias e oportunidades de negócio com vista à produção de produtos para proteção individual.

Acha que a pandemia vai alterar a perceção que a opinião pública tem dos plásticos?

Creio que essa alteração de perceção já ocorreu. Considero que houve uma mudança generalizada no processo de tomada de consciência de que ao invés de o plástico ser visto como um “inimigo” e um material de “baixo valor” é antes percecionado como um aliado indiscutível no prolongamento da vida útil dos produtos, na garantia da higiene e segurança alimentar e na proteção da saúde pública, tendo um papel fulcral no panorama atual, mitigando a evolução e os efeitos desta crise epidémica.

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É certo que continuamos a ver máscaras e luvas pelo chão. Na sua opinião, qual é a melhor forma de mudar este tipo de comportamento?

De facto, estes exemplos são hoje a face mais visível de um problema global de gestão de resíduos, que resultam acima de tudo de comportamentos indevidos por parte dos consumidores – não adoção das melhores práticas de separação e deposição dos resíduos gerados, que dificultam a sua recolha e tratamento adequado, podendo inclusive colocar em causa a própria saúde pública.

Neste campo, e de modo a que seja visível uma mudança no comportamento humano, é fundamental que o Estado e todas as entidades envolvidas no processo de gestão de resíduos promovam o investimento na comunicação e sensibilização dos consumidores e nos meios que são colocados à disposição destes para que a separação e deposição seletivas sejam assumidas e colocadas em prática por todos. Com isto, ganha o ambiente, ganham as pessoas, ganham os setores industriais dos resíduos, dos plásticos e outros conexos. Paralelamente, entendo que deverá haver uma revisão, sistematização e unificação de todo o sistema de separação, recolha e tratamento de resíduos, a fim de se alcançar uma verdadeira eficiência em todas as etapas do circuito por ondem passam os resíduos.

O que diria aos que continuam a apontar o dedo ao plástico como causador de poluição?

Possuidores de excelentes propriedades, os plásticos são materiais extremamente versáteis, que vieram revolucionar a nossa sociedade. Diria que, se hoje temos qualidade de vida e saúde, muito devemos a este material, e que, quando utilizado nas suas mais diversas áreas de aplicação (embalagem, transportes, saúde, eletrónica, construção, etc.), o plástico contribui de forma decisiva para a minimização de impactes e custos ambientais, algo que muitas vezes não é do conhecimento da população.

No entanto, a tónica muitas vezes é colocada na poluição causada pelos plásticos, um problema que existe de facto e a indústria é a primeira a reconhecê-lo e tem estado empenhada em fazer parte da solução. Mas, a este respeito, importa reforçar a ideia de que o problema não está no material mas sim na vertente comportamental. Resíduos abandonados em terra ou no oceano de forma desregrada, sejam eles de plástico, papel, vidro, metal ou qualquer outro material, geram este problema de poluição. A indústria tem vindo a fazer a sua parte, melhorando o ecodesign dos seus produtos conferindo-lhes uma maior reciclabilidade.

No entanto, ao consumidor é-lhe reservado um papel determinante no caminho para a diminuição deste problema de poluição, quer pela via de um consumo cada vez mais racional e sustentável, quer pela adoção de um comportamento mais cívico e mais responsável no momento de descartar os seus resíduos, devendo para o efeito separá-los e depositá-los seletivamente. É aqui que reside maioritariamente o problema, o qual em determinados países é agravado com a ausência de infraestruturas de recolha e tratamento de resíduos, felizmente não é a nossa realidade.

Como vê a reação da indústria de plásticos portuguesa a esta pandemia?

Considero que a indústria de plásticos reagiu, globalmente, de forma positiva, procurando mais uma vez fazer parte da solução de um problema, desta feita de natureza de saúde pública, dando um contributo decisivo para a prevenção e controlo da propagação do contágio do novo coronavírus. Uma das qualidades que caracteriza a indústria de plásticos é a sua capacidade de resiliência. É esta mesma capacidade que faz com que se adapte a novas realidades e a mudanças de contexto inesperadas, como o presente caso da pandemia do covid-19. Na verdade, muitas empresas, fruto da quebra de encomendas e paragem ou diminuição da atividade dos seus clientes, procuraram ajustar os seus processos para o desenvolvimento de novos produtos, que se materializaram na produção e disponibilização de diversos equipamentos de proteção individual em plástico, como são exemplo as viseiras, batas, manguitos, calçado, etc., que se têm revelado imprescindíveis para muitos profissionais, em particular para os profissionais de saúde que têm estado na linha da frente no combate a esta pandemia.

Paralelamente tivemos um conjunto de empresas que fabricam e/ou comercializam produtos plásticos essenciais a vários setores de atividade, como são exemplo as áreas alimentar, farmacêutica e de higiene e limpeza (doméstica, industrial e hospitalar), e que procuraram manter o contínuo fornecimento das referidas cadeias de abastecimento e por conseguinte da satisfação de necessidades sociais impreteríveis, como são a alimentação e saúde dos cidadãos.

No entanto, também é indesmentível que várias empresas transformadoras do setor dos plásticos foram fortemente afetadas, nomeadamente aquelas que fabricavam produtos para as áreas da construção civil e ramo automóvel, cuja contração económica foi mais do que evidente. Panorama idêntico fez-se sentir ao nível da atividade de reciclagem de plásticos, onde a procura de materiais reciclados desceu drasticamente.

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Que consequências pode vir a ter esta crise para o setor? Poderá estar em causa a esperada transição para a economia circular?

A crise global causada pelo Covid-19 trouxe impactos em cascata para todos os setores. Embora uma parte do setor dos plásticos tenha sentido efeitos positivos, também não é menos verdade que outra parte do setor se deparou com grandes dificuldades, conforme tive oportunidade de referir anteriormente. Nestes casos concretos, é impreterível que sejam colocadas à disposição das empresas medidas que apoiem e promovam a sua competitividade (ex: linhas de crédito de garantia mútua, redução das taxas de juro de financiamento, alargamento do regime de lay-off simplificado, etc.), garantindo não só a sua continua laboração como a própria preservação de postos de trabalho. Por outro lado, tenho a convicção de que em todas as crises novos desafios e oportunidades surgem, e esta não será diferente.

Neste contexto, entendo que a aposta na economia circular continuará a ser uma realidade, agora reforçada pelo novo plano de ação europeu. A indústria de plástico tem reforçado e colocado em prática os seus princípios, onde as nossas empresas têm trabalhado sobretudo no ecodesign dos produtos, tornando-os mais recicláveis e, por conseguinte, mais sustentáveis. A transição para uma economia circular mais do que uma opção é uma necessidade, onde temos o dever de preservar os recursos, reciclando-os e reintroduzindo-os de novo na economia sob a forma de novos produtos.

E a nível europeu? Podemos vir a assistir, por exemplo, a uma inversão da atual dependência europeia em relação aos países asiáticos no que diz respeito, por exemplo, a produtos de primeira necessidade como os EPIs?

Creio que essa é uma expectativa que todos temos. Foi evidente que esta pandemia demonstrou a dependência excessiva europeia da indústria de países terceiros, nomeadamente asiáticos, com os custos económicos, políticos e sobretudo ecológicos, em que essa mesma dependência se traduz. Naturalmente, a União Europeia terá que refletir sobre estes mesmos assuntos e assumir uma posição de autossuficiência inequívoca. Os desafios que vamos enfrentar no futuro próximo não terão paralelo com os desafios do passado recente. Os níveis de exigência técnica e tecnológica serão levados ao seu mais alto patamar e só uma adaptação da legislação a este novo paradigma poderá catapultar a indústria europeia para esse objetivo.

O Plastic Summit de 2019 conseguiu um número de participantes recorde [em relação ao antigo Seminário de Plásticos]. Para quando podemos esperar a próxima edição?

Sim, é verdade! A primeira edição do Plastics Summit, realizada em setembro de 2019, foi um sucesso reconhecido pela generalidade, onde reunimos todos os agentes que fazem parte da cadeia de valor dos plásticos, lançando assim as bases para um futuro sustentável, baseado na valorização do material. Naturalmente que era nossa intenção realizar a 2.ª edição deste evento, o maior do setor dos plásticos em Portugal, no último trimestre deste ano. No entanto e em face dos acontecimentos com o Covid-19, entendemos como medida preventiva reagendar a sua realização para uma altura em que esperamos que estejam reunidas as condições ideais, face ao atual contexto de pandemia.

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