Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa

Caracterização da indústria dos plásticos: os desafios atuais

Cláudia Ribau, Doutorada em Marketing e Estratégia pela Universidade de Aveiro, docente no ISCA-UA; António Moreira, docente na Universidade de Aveiro.08/09/2021
O plástico está em todo o lado. Ele é crucial na vida do século XXI, fazendo parte integrante da vida moderna. Desempenha um papel importante na economia e, apesar da crise financeira global e do nível de consumo abrandar (desde 2009), este sector industrial tem crescido continuamente. Hoje deparamo-nos com desafios importantes no sector dos plásticos, focados essencialmente na sua cadeia de abastecimento, que é de importância estratégica. Conheçamos melhor este sector.

O plástico pertence à família das resinas celulósicas derivadas do petróleo, ao subgrupo dos polímeros, um dos componentes da indústria química (Figura 1). Devido às características físico-químicas dos materiais plásticos, a sua densidade é relativamente baixa, pelo que os produtos finais caracterizam-se pela leveza. Por outro lado, apesar de apresentarem excelentes propriedades de isolamento térmico e elétrico, alguns podem ser utilizados como condutores de eletricidade; são resistentes à corrosão de muitas substâncias que atacam outros materiais; alguns são transparentes, podendo ser aplicados em dispositivos óticos. A facilidade de moldagem dos plásticos em formas complexas permite a integração de diferentes materiais e funções. E, no caso em que as propriedades físicas de os materiais plásticos não cumpram com os requisitos especificados, estes podem ser modificados através da adição de reforços, como corantes, agentes espumantes, retardadores do fogo, plastificantes, entre outros, adequando-os aos requisitos do mercado e às especificidades da aplicação.

Figura 1 – Esquematização das áreas sectoriais
Figura 1 – Esquematização das áreas sectoriais

Existem cerca de 20 grupos distintos de plástico, cada qual com numerosas classes disponíveis que dão propriedades específicas a cada aplicação. Destes grupos podem ser identificados genericamente cinco grandes famílias de plásticos: o polietileno (PE), o polipropileno (PP), o policloreto de vinilo (PVC), o poliestireno (PS) e o polietileno tereftalato (PET). As cinco famílias representam 75% da procura de plásticos na Europa. O tipo de resinas mais utilizado são as poliolefinas, que totaliza cerca de 50% da procura global de plásticos, e o PVC, que ocupa a 3ª posição, com 11%, no ranking das resinas mais procuradas.

Os plásticos podem ser utilizados em vários sectores económicos/industriais, tais como: (1) embalagens; (2) construção civil; (3) transporte; (4) electricidade e electrónica; (5) agricultura; (6) medicina e saúde; (7) desporto; (8) lazer; (9) design. Os plásticos são um produto feito pelo ser humano, pelo que qualquer combinação de propriedades pode ser desenvolvida para se adequar a todas as aplicações que se possa pensar.

O plástico é um material versátil com inúmeras aplicações na indústria e em diversos segmentos de consumo final, tendo ajudado a melhorar a qualidade de vida, promover a criação de unidades de inovação e facilitar a eficiência dos recursos. Por ser um material leve, mas ao mesmo tempo durável, fácil de moldar, económico, adaptável a diferentes necessidades e exigências, entrou facilmente no dia-a-dia do ser humano. A indústria dos plásticos é um sector high-tech com uma clara perspetiva de futuro tal como têm demonstrado os dados de consumo divulgados pela Worldwide Plastics Consumption, com um aumento, entre 2000 a 2010, de 60% no consumo dos plásticos em 10 anos.

A cadeia de valor da indústria dos plásticos pode ser dividida em sete grandes segmentos: (1) fornecedores de matéria-prima (que fornecem materiais petroquímicos, químicos e aditivos); (2) produtores de plásticos (que fabricam os diferentes tipos de resinas plásticas); (3) produtores de plásticos ou plastics compounders (que prepararam as formulações do plástico, misturando polímeros e aditivos em grão prontos a utilizar); (4) fabricantes de máquinas para o sector dos plásticos (que fabricam o equipamento utilizado na indústria); (5) transformadores de plásticos (que transformam as resinas plásticas e compostos em produtos acabados); (6) distribuidores de produtos de plástico e/ou users (fabricantes OEM que integram componentes de plástico no seu produto final; retalhistas que disponibilizam os produtos de plástico no mercado); (7) empresas de plásticos em fim de vida (empresas de gestão de resíduos, reciclagem e operadores de energia do lixo), especificamente plásticos usados (de acordo com o fim para que foram criados) ou produtos acabados virgens (plásticos não usados, que por alguma razão apresentam algum defeito, não podendo ser utilizados de acordo com a finalidade para que foram produzidos, pelo que seguem para reciclagem).

Numa versão alargada da cadeia de valor da indústria dos plásticos (denominada por sistema de valor) conseguem-se desenhar fundamentalmente três ciclos: (1) ciclo primário (onde se encontram as refinarias que fracionam a nafta ou o gás natural, transformando-os em petroquímicos básicos como o eteno, o propeno, o estireno); (2) ciclo secundário [neste ciclo é normal ser identificado um número maior de empresas do que no primeiro ciclo; é aqui que os produtores de resinas termoplásticas transformam os petroquímicos básicos em p.e. polietileno (PE) de alta (PEAD) e baixa densidade (PEBD), polipropileno (PP), policloreto de vinilo (PVC), resinas termoestáveis, elastómeros, poliuretanos (PU), polímeros para fibras sintéticas, bases para detergentes sintéticos e tintas, etc.; neste ciclo identificam-se não só os fornecedores de matéria-prima como também de equipamentos]; (3) ciclo terciário (as empresas que transformam os polímeros numa variedade de produtos plásticos).

As empresas de primeiro ciclo trabalham fundamentalmente com monómeros, como os hidrocarbonetos, derivados do petróleo ou do gás natural. Quando esta pequena molécula se liga a outros monómeros formam moléculas maiores (macromoléculas), denominadas por polímeros, o core business das empresas de segundo ciclo. Estes compostos químicos, com maior massa molecular (polímeros), resultam de um processo de polimerização (reações químicas), contendo proporcionalmente os mesmos elementos dos monómeros só que em maior quantidade.

Os polímeros commodities são os mais vulgarmente consumidos (polietilenos, polipropilenos, PVC, poliestirenos, poliésteres, poliuretanos). Existem outras classes de polímeros que por terem uma aplicação específica ou por terem um custo elevado são denominados de plásticos de engenharia ou da especialidade.

A par do fluxo dos materiais, a cadeia de valor da indústria dos plásticos também engloba os fornecedores de equipamentos: diversas máquinas para diversos segmentos da indústria de terceiro ciclo. Estes fabricantes de equipamento desempenham um papel importante na cadeia de abastecimento ao procurarem novas formas de processar a transformação dos polímeros, otimizando variáveis importantes no processo de conceção e desenvolvimento do produto plástico, o que inclui p.e. a velocidade do ciclo de produção da máquina, a quantidade produzida vs o tempo demorado, redução do desperdício, a qualidade do output da máquina, a poupança na matéria-prima utilizada e o tipo de material utilizado no fabrico, o consumo energético, a dependência e quantidade de recursos humanos necessários por máquina, a exigência tecnológica imputada a alguns produtos de plástico (p.e., para o setor automóvel). As pressões competitivas do mercado, quer doméstico, quer internacional, dentro da indústria dos plásticos, exigem parâmetros técnicos de diferenciação e inovação tecnológica, pelo que as máquinas devem otimizar o processo produtivo para que o output saia a preços competitivos e responda às exigências de inovação técnica.

As empresas do terceiro ciclo transformam os polímeros em vários produtos, juntando em alguns casos diferentes polímeros para obter as características desejadas no produto final. Os processos industriais utilizados na transformação dos plásticos são vários, com recurso a diferentes tecnologias, como: (1) a extrusão; (2) a (moldagem por) injeção; (3) (moldagem por) sopro; (4) a calandragem; (5) a imersão; (6) a termoformagem; (7) rotomoldagem; (8) slush moulding; (9) a (moldagem por) compressão, que transformam os produtos do segundo ciclo em produtos prontos a serem utilizados pela sociedade. De notar que a extrusão e a injeção são as duas mais utilizadas em Portugal. Relacionando o processo de produção, o produto ou segmento de mercado e as matérias-primas utilizadas indica-se, a título de exemplo, os tubos para a construção civil que são produzidos pelo processo de extrusão, utilizando o PVC, o PP, o PEAD como principais matérias-primas; alguns utensílios domésticos ou embalagens para o sector da saúde (medicamentos), alimentar ou cosmética integram na sua composição o PP, o PVC, o PEAD, o polietileno tereftalato (PET), o acetato de etileno vinilo (EVA) como matérias-primas, segundo o processo de injeção ou sopro.

Entre o segundo e terceiro ciclo podem atuar empresas de distribuição e revenda de resinas termoplásticas.

No final da cadeia de abastecimento encontram-se os compradores e utilizadores finais. Nos primeiros, distinguem-se fundamentalmente dois tipos: (1) as denominadas OEM (Original Equipment Manufacturer), empresas produtoras que integram no seu produto final componentes de plástico, como a indústria automóvel e do transporte, empresas de construção civil, produtores de equipamentos diversos (como industrial, domésticos, alimentar, elétrico e eletrónico), indústria cosmética, hospitalar, do lazer e do desporto, alimentar, indústria solar, embalagens diversas, etc; (2) cadeia de distribuição tradicional (distribuidores, armazenistas e lojistas) e moderna (grandes superfícies). Quando o utilizador final toma grandes dimensões, este pode assumir em simultâneo a figura de comprador.

Figura 2 – Ilustração macro do network vertical da cadeia de valor integrada do sector industrial dos plásticos
Figura 2 – Ilustração macro do network vertical da cadeia de valor integrada do sector industrial dos plásticos

As duas etapas centrais identificam o segundo e terceiro ciclo com os produtores de resinas e os transformadores de plásticos, respetivamente, o que não significa que daqui saem os produtos finais, uma vez que uma parte dos outputs do terceiro ciclo constituem componentes em outros processos industriais (como o caso das OEM anteriormente referidas). A perspetiva macro desta relação verticalmente integrada pode ser analisada na Figura 2, incorporando todos os elementos do sistema de valor.

Os fluxos relacionais neste network vertical são vários e bidirecionais, envolvendo não só os fluxos de matérias-primas e produtos, mas também elementos intangíveis que se materializam em relacionamentos que podem ser de cooperação ou de conflito, compreendendo preços, contratos, projetos, investimentos, entre outros. Cada um dos ‘atores’ nesta cadeia envolve relações mais ou menos próximas, criando condições mais ou menos favoráveis à geração de valor.

Nesta dinâmica competitiva do setor dos plásticos, o mercado também representa um papel importante. A interação com clientes e utilizadores finais permite, entre muitos outros aspetos, identificar problemas de performance do produto, propor novas soluções, identificar tendências e hábitos de utilização.

As atividades das empresas na cadeia de valor têm, de alguma forma, ligação com a comunidade que lhe é circundante, criando consequências sociais positivas ou negativas, pelo que a inclusão de uma perspetiva social na estratégia competitiva é fundamental para fazer crescer o negócio num sentido sustentável, conceito que tem ganho nos últimos anos cada vez maior relevância. Tendo em conta as tendências mais recentes da sustentabilidade (que inclui a reciclagem, um fenómeno relevante em termos ambientais e sociais) e as perspetivas em relação às matérias-primas (fontes alternativas de combustíveis fósseis, que passa pelo ‘novo petróleo verde’, o ‘biocombustível’ de origem vegetal) são igualmente aspetos estratégicos, para a cadeia de valor da indústria dos plásticos, apesar de estarem em constante mudança na procura de impacto futuro.

No que diz respeito à reciclagem, identificam-se dois pontos fundamentais na cadeia de valor dos plásticos: (1) reciclagem de produto acabado; (2) reciclagem de produto em fim de vida. O processo de reciclagem em fim de vida implica a recolha do plástico para reciclar, a sua triagem, o seu reprocessamento (estendendo a cadeia produtiva a todo o ciclo de vida do produto) e unidades industriais relativamente estruturadas. No caso da reciclagem do produto acabado que, por qualquer motivo foi rejeitado do seu processo produtivo normal, este pode ser reciclado numa unidade interna de reciclagem ou com recurso a empresas externas especializadas neste processo via outsorcing.

É neste segmento da cadeia de valor da indústria dos plásticos que se identificam os maiores desafios atuais. As preocupações ambientais e as limitações de recursos tornaram a poluição ambiental e a utilização sustentável de recursos em questões de agenda global. A preservação do ambiente tem vindo a tornar-se uma variável de grande importância na atividade industrial deste sector e a noção de que é urgente adotar medidas para a sustentabilidade é cada vez mais comum e premente. É nesta fase que se encontra a indústria dos plásticos, numa ótica de economia circular, em que o papel quer da indústria, na utilização racional dos recursos e no seu reaproveitamento, quer do utilizador final do material plástico, num consumo consciente e no encaminhamento correto para uma reutilização (infindável), são fundamentais para preservar o amanhã do universo.

Referências:

ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) - http://www.abiplast.org.br/ - Caracterízação da Cadeia Petroquímica e da Transformação de Plásticos, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

CPIA - Chemical Propulsion Information Agency - www.cpia.jhu.edu - e Canadian Plastics Industry Association - www.plastics.ca.

Plastics (2010), ‘Plastics – The facts 2010’.

Plastics Cluster – www.kunststoff-cluster.at.

Plastics Europe – The Plastics Portal - www.plasticseurope.org.

REVISTAS

Siga-nos

Media Partners

NEWSLETTERS

  • Newsletter InterPlast

    24/04/2024

  • Newsletter InterPlast

    17/04/2024

Subscrever gratuitamente a Newsletter semanal - Ver exemplo

Password

Marcar todos

Autorizo o envio de newsletters e informações de interempresas.net

Autorizo o envio de comunicações de terceiros via interempresas.net

Li e aceito as condições do Aviso legal e da Política de Proteção de Dados

Responsable: Interempresas Media, S.L.U. Finalidades: Assinatura da(s) nossa(s) newsletter(s). Gerenciamento de contas de usuários. Envio de e-mails relacionados a ele ou relacionados a interesses semelhantes ou associados.Conservação: durante o relacionamento com você, ou enquanto for necessário para realizar os propósitos especificados. Atribuição: Os dados podem ser transferidos para outras empresas do grupo por motivos de gestão interna. Derechos: Acceso, rectificación, oposición, supresión, portabilidad, limitación del tratatamiento y decisiones automatizadas: entre em contato com nosso DPO. Si considera que el tratamiento no se ajusta a la normativa vigente, puede presentar reclamación ante la AEPD. Mais informação: Política de Proteção de Dados

interplast.pt

InterPLAST - Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa

Estatuto Editorial