Saber exatamente quanto vale o seu mercado é essencial para a definição da estratégia comercial de qualquer empresa. Ciente deste facto, a InterPlast levou a cabo um estudo de mercado de máquinas de injeção, com o principal objetivo de proporcionar aos participantes dados fiáveis sobre o número total de máquinas de moldagem por injeção vendidas no mercado português durante 2021, bem como outros dados de segmentação. O evento decorreu no dia 29 de março, em Leiria, e contou com a participação da maioria das empresas do setor.
No último ano, a indústria de injeção de plásticos viveu num autêntico carrossel. Desde as implicações da pandemia, às sucessivas crises na indústria automóvel, às imposições ambientais, passando pela subida dos preços das matérias-primas, da energia e dos combustíveis – agravada pela guerra na Ucrânia -, aconteceu de tudo.
Isto, naturalmente, refletiu-se na venda de máquinas de injeção. Mas afinal, quantas máquinas se venderam em Portugal em 2021? De que tipo? E, em que setores e regiões geográficas?
Todos os anos, as empresas fornecedoras destes equipamentos esforçam-se por estimar um valor para este mercado, sem, no entanto, terem dados concretos em que se basear. Desta forma, qualquer estratégia comercial que se defina tem sempre por base uma análise fundada na perceção dos vendedores.
Foi para colmatar esta lacuna que a InterPlast decidiu realizar, pela primeira vez em Portugal, um estudo de mercado de máquinas de injeção. O evento decorreu no NERLEI, em Leiria, no passado dia 29 de março, e contou com a presença de oito das principais empresas fornecedoras deste tipo de equipamentos em território nacional:
O estudo foi realizado com base num pressuposto fundamental: a confidencialidade dos dados fornecidos. Para assegurar que assim fosse, os participantes foram convidados a fornecer detalhes das suas vendas de 2021 de forma totalmente anónima. Os dados recolhidos foram então tratados informaticamente e apresentados aos presentes.
Os resultados obtidos são animadores e, apesar de todos os fatores adversos, revelam um mercado de boa dimensão, tanto em número total de equipamentos novos vendidos, como em volume de faturação.
O 1º Estudo de Mercado de Máquinas de Injeção em Portugal reuniu oito empresas fabricantes ou distribuidoras de máquinas de moldagem por injeção, que partilharam os seus dados de vendas no mercado português durante o ano de 2021. Os dados fornecidos de forma anónima foram tratados informaticamente e deram origem a um relatório final, confidencial e ao qual apenas tiveram acesso os participantes.
Os resultados obtidos compreendem parâmetros como o número total de vendas, o tamanho e tipo de máquinas, os setores de aplicação das máquinas vendidas e as áreas geográficas com as taxas de vendas mais elevadas. O estudo analisou também as vendas de máquinas de moldagem por injeção de segunda mão.
Após a apresentação dos resultados, todos os participantes foram convidados a responder a um questionário sobre a sua atividade e sobre a sua visão da situação atual do setor.
A maioria dos participantes no estudo de mercado relatou aumentos de vendas durante 2021, em relação a 2020.
Tiago Coelho, gerente da Augusto Guimarães & Irmão, lembra que “2021 foi um ano de muito trabalho árduo e intenso para garantir o fornecimento dos nossos clientes. A falta de componentes eletrónicos teve um impacto muito importante em vários setores, em particular na indústria automóvel, como equipamentos elétricos e eletrónicos. Isso limitou muitos OEMs na sua capacidade de produção, o que acabou por afetar os fornecedores de componentes, como os do setor de plásticos, que se encontravam numa situação pouco comum com bons pipelines de pedidos, mas continuamente parados ou atrasados. Neste contexto, os clientes mais direcionados para estes sectores tiveram dificuldades e os novos projetos e projetos de investimento ficaram em stand-by”. No entanto, “2021 foi também o ano da vacinação generalizada em todo o mundo, num esforço coletivo assinalável. O material plástico e a indústria voltaram a ter papel fundamental em todo esse esforço, permitindo a própria vacinação por meio de seringas adaptadas para otimizar cada gota de vacina, bem como na proteção dos vacinados e de todos aqueles que estão na linha de frente deste processo”, refere o responsável pela AGI, acrescentando que “a atividade no nosso grupo foi forte neste período. Estamos felizes por ter participado ao lado de alguns dos nossos clientes em alguma parte desses esforços”.
Também Martin Cayre, diretor geral de Arburg Portugal e Espanha, refere que a empresa viveu em 2021 “uma atividade frenética, especialmente durante o primeiro trimestre, com um elevado nível de consultas de pedidos”, ainda que o setor tenha sindo bastante afetado pelos aumentos de preços em todos os tipos de matérias-primas e componentes. Lembra ainda “a redução significativa no volume de produção do setor automóvel [principalmente devido ao fornecimento insuficiente de semicondutores]”, fator que, alerta “deverá manter-se pelo menos até ao final de 2022”.
Rui Fonseca, gerente da Tecnofrias, afirma que “apesar dos efeitos nefastos da pandemia, da consequente instabilidade do mercado, da crise económica decorrente e dos problemas de abastecimento de componentes, fortemente sentido no setor, a Tecnofrias conseguiu aproveitar as oportunidades de negócios geradas pela pandemia e manteve, no ano 2021, a tendência de crescimento que vinha a ter nos anos anteriores, procurando satisfazer as necessidades dos clientes”.
Por seu lado, Manuel Folhadela, sócio-gerente da Folhadela Rebelo, recorda que “depois de um 2020 difícil, 2021 continuou a ser um ano instável, não só por causa da pandemia, mas também pelas dificuldades no setor automóvel. Ainda assim, foi um ano melhor que o anterior. Vendemos mais, ainda que com margens menores”.
Já Jorge Júlio, diretor geral da Inautom, revela que “2021 foi um ano muito positivo, quase tão bom como 2020, o melhor ano de sempre para a Inautom”.
“Os transformadores de plásticos portugueses, mais concretamente os que produzem peças para a indústria automóvel, trabalham muito com empresas do centro da Europa, principalmente alemãs e francesas. Estes países têm uma grande dependência energética da Rússia e é natural que venham a ser bastante afetados pelo atual conflito, principalmente no que respeita ao aumento dos custos de produção o que, mais uma vez, fará aumentar os preços no consumidor”, esclarece Hugo Brito. “Neste sentido, ainda que indiretamente, é natural que venhamos também a ser afetados. De qualquer modo, não temos prevista qualquer mudança estratégica para este ano”, conclui.
De qualquer forma, é natural que alguns dos resultados positivos que as empresas conseguiram em 2021 acabaram por se diluir na subida das taxas de juros e no aumento generalizado dos custos com matérias-primas, energia e, principalmente, dos transportes. Manuel Folhadela lembra que, fruto do conflito, “assistimos a uma grande instabilidade nos preços e no serviço das transportadoras, de tal forma, que só podemos marcar o preço final de um equipamento depois de sabermos quais são os custos de transporte. Estamos a falar de variações que vão dos 15 aos 30%”, assegura. “A isso acresce a falta de apoio da União Europeia. Os incentivos atuais estão muito focados nos investimentos públicos e não na indústria. Isso não cria riqueza nem movimenta a economia”, afirma este responsável acrescentando, no entanto que “neste momento, os principais problemas são a instabilidade na indústria automóvel, causada pela falta de semicondutores e o revés da pandemia na China. Quando se fecha Xangai um mês inteiro, a economia global treme. O mercado chinês é muito importante, tanto para quem vende como para quem compra”.
Os custos dos transportes têm sido também o principal fator de instabilidade para a Inautom. “Nós importamos quase todos os equipamentos da China e do Japão, por isso, sentimos muito a influência dos custos dos transportes”, diz Jorge Júlio. Para fazer face a este aumento, a empresa definiu uma estratégia que pretende manter em 2022: “Optámos por dividir estes custos em três partes: uma suportada pelo fabricante do equipamento, outra pela nossa margem e a terceira pelo cliente final. Achamos que, se cada um suportar uma pequena parte dos custos, todos saem a ganhar”. No que respeita ao conflito na Ucrânia, recorda que “é natural que comecem a chegar a Portugal oportunidades que se estão a desviar daquela zona, por estarmos mais longe e termos um ambiente de segurança”, e deixa um alerta: “Nós já deveríamos de estar a trabalhar nessas oportunidades. No que respeita à Inautom, o facto de termos em Portugal o centro de distribuição de máquinas para a Europa, da Tederic vai com certeza facilitar o plano de distribuição para o resto da Europa”.
Com todos os fatores somados, a generalidade dos entrevistados afirma esperar um 2022 melhor que o ano anterior, até porque, diz Hugo Brito, “sabemos que há projetos em curso e vemos que os fabricantes de moldes, que estão numa fase da cadeia anterior à dos plásticos, estão com um pouco mais de trabalho”.
E também porque este ano é ano de K, a principal feira mundial de tecnologias para o processamento de plásticos. Realizada em Düsseldorf a cada três anos, a K é sempre aguardada com expetativa tanto por visitantes como por expositores, que reservam para esta altura a apresentação de novos equipamentos.
Este ano, a expectativa é superior ao normal. Não só porque se trata da primeira edição pós início da pandemia, como pelos fatores de incerteza como o reavivamento da pandemia nos países asiáticos e a própria guerra. “A K vive muito dos visitantes asiáticos e americanos. Se eles não puderem ir, a feira será, necessariamente, mais fraca que o habitual”, afirma Manuel Folhadela. Ainda assim, a Folhadela Rebelo antecipa a apresentação de várias novidades das suas representadas durante o evento, nomeadamente, da KraussMaffei. “Ainda não podemos revelar pormenores, mas sabemos que vai haver novidades em praticamente todos os segmentos, nomeadamente nas máquinas 100% elétricas, nas máquinas mais compactas, bem como em equipamentos mais standardizados, com menores custos, mas também nas máquinas dedicadas a cada projeto por um lado, e outros feitos à medida de cada projeto, por outro”.
Também a Engel prepara novidades: “Estão previstos lançamentos relacionados com a digitalização e a economia circular, uma área que está no centro das preocupações da empresa”, refere Hugo Brito.
Na mesma linha, a Arburg prevê apresentar durante o evento “várias inovações tecnológicas, sendo dois tópicos-chave a digitalização no âmbito da Indústria 4.0 e a sustentabilidade no âmbito do programa arburgGREENworld, com enfoque na redução da pegada de carbono e na economia circular”, relata o responsável pela empresa.
Já a Tederic, representada pela Inautom, prepara para a K o lançamento da série Neo, com tecnologia mais avançada para uma maior poupança energética, nas vertentes híbrida e 100% elétrica. “Em Portugal, ambas as máquinas vão ser apresentadas num evento que estamos a preparar para o próximo dia 25 de junho”, informa Jorge Júlio.
“Da Wittmann, na vanguarda da tecnologia, serão várias as novidades que poderemos ver, desde novos modelos de máquinas e robôs, termoreguladores, moinhos, equipamentos de transporte, secagem de materiais e muito mais...”, assegura Rui Fonseca.
A realização deste estudo de mercado revelou-se oportuna, com todos os intervenientes a aplaudirem a iniciativa da InterPlast. Assim, e para dar continuidade ao trabalho agora iniciado, prevemos voltar a realizar este estudo no início de 2023 e convidamos desde já todos os demais interessados a participar no mesmo.
interplast.pt
InterPLAST - Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa