Teremos finalmente uma mudança para o paradigma da Eficiência?
A cada ano, por altura do verão, é anunciado o dia em que o Planeta esgotaria os seus recursos, de acordo com o modo de vida que adotamos.
A cada ano é lançado o alerta para que a população e principalmente os governantes internalizem que os recursos do Planeta são finitos e verdadeiramente imprescindíveis à nossa vida, da forma que nos habituámos a viver. Se abrimos a torneira a água não escasseia, se acendemos um candeeiro a luz acende e se ligamos um equipamento de refrigeração a eletricidade não falha.
Este modelo de “eternidade” que atribuímos aos bens e aos recursos sempre foi uma fantasia, que na prática não existia.
Para quem anda por este Planeta há mais tempo, testemunha facilmente tempos de recessão, onde a escassez dos recursos era uma realidade, e o acesso aos bens e serviços era racionalizado. O fornecimento dos recursos (água e energia) não era garantido, mas principalmente, o fornecimento dos bens alimentares também não era um bem completamente adquirido.
O conflito armado que a Europa vive, e que não mostra nenhum sinal de terminar a curto prazo, veio alterar este paradigma, que há muito era reclamado pelos cientistas – o paradigma da eficiência.
A incerteza sobre o fornecimento de gás pela Rússia, resultado de sanções de ambas as partes, com os meses mais frios a aproximarem-se levou a que a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, tenha assumido que a Europa terá que racionar “obrigatoriamente” o consumo de gás, para prevenir e assegurar uma resposta em caso de emergência.
Na prática, o racionamento dos consumos não é uma novidade para nós, é uma repetição de práticas do passado, mas pelos vistos um período da nossa história foi rapidamente esquecido e substituído pelo esbanjamento.
As medidas que estão a ser implementadas sob o chapéu da “emergência”, integradas no plano que a Comissão Europeia de Bruxelas focado na “redução” do consumo de gás nos Estados-membros, na ordem dos 15%, há muito que já devia ser uma prática generalizada e por todo o território da União Europeia e do Mundo, tomada de mãos dadas com a aposta numa economia energética não assente nos combustíveis fósseis, finitos e dependentes de terceiros.
Este século, tal como esperado, viveremos uma guerra pela energia, pela água, uma luta entre a procura e a oferta, sendo que a procura assenta em garantir pelo menos o “nível de segurança” que permita assegurar o conforto básico para proteger a população durante os meses mais agrestes que a Europa enfrenta todos os anos, com a chegada do inverno.
O modelo de desenvolvimento económico já não está dimensionado às necessidades e limitações do Planeta. É necessário, de uma vez por todas, adotar práticas de eficiência e de uso eficiente dos recursos, numa mudança de paradigma para uma economia que se quer assente no cruzamento da eficiência no uso dos recursos como o apoio às necessidades de saúde e segurança.
* Especialista na área dos Resíduos e Ambiente
Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST
Fundadora e Coordenadora do SOS AMIANTO
Autora do livro 'Não Há Planeta B: Dicas e Truques para um Ambiente Sustentável'
Conselheira do CES - Conselho Económico e Social, pela CPADA, em representação das Associações Nacionais de Defesa do Ambiente