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“Nas máquinas de injeção, o grande desafio é fazer peças com menor consumo de energia e zero rejeitados”

Entrevista com Hugo Brito, diretor geral da Equipack

Luísa Santos14/11/2023

No mercado desde 1988, a Equipack representa em Portugal uma das principais marcas de máquinas de injeção de plásticos, a Engel. Nesta entrevista, Hugo Brito fala da parceria especial entre as duas empresas e dos principais desafios do setor. Entre eles, destaca o atraso nos novos projetos da indústria automóvel e a falta de mão de obra qualificada. Necessidade que a Equipack quer ajudar a colmatar com um novo serviço de formação técnica 'in doors' e com os mais recentes programas de manutenção preventiva da Engel.

Hugo Brito, diretor geral da Equipack
Hugo Brito, diretor geral da Equipack.

A Equipack comemora este ano 35 anos de atividade. Como avalia o percurso da empresa até aqui?

O percurso da Equipack tem sido um percurso ‘normal’, com altos e baixos, como a generalidade das empresas nacionais. Iniciámos a atividade em 1988, com um convite de um fabricante de máquinas de injeção de plásticos para representar a marca em Portugal, relação que viria a durar cerca de quatro anos. O período mais baixo da Equipack foi, talvez, aquele que se seguiu à decisão dessa empresa de deixar de ter cá um agente. Em 1995, ganhámos então a representação da Engel, que na altura procurava um representante dedicado, que trabalhasse bem o mercado industrial. Felizmente, conseguimos solidificar e manter esta relação até hoje.

As restantes representadas foram surgindo com o tempo, com a necessidade e com a oportunidade. Com a exceção da Tool-temp, fabricante de controladores de temperatura e refrigeradores de água, com quem temos uma relação mais antiga, as restantes (a Koch, com os desumidificadores e sistemas de alimentação; a Priamus, com os sensores e sistemas de gestão de qualidade; a MTF, com os tapetes transportadores; a Wanner, com os moinhos; e a Rothfuss, com os apertos de molde) surgiram todas numa fase posterior à Engel.

Considerando os altos e baixos que referiu, em que fase está atualmente a Equipack?

De facto, tivemos períodos menos positivos e outros muito bons, como o de 2016-2019, mas neste momento eu diria que estamos numa fase ‘normal’. Temos encomendas que nos permitem olhar para o futuro próximo com alguma tranquilidade e a expectativa é que consigamos manter a nossa quota de mercado que, aliás, nunca sofreu grandes alterações ao longo dos anos.

Quota de mercado que, neste momento, é de quanto?

Não é fácil termos uma resposta concreta a isso, mas, de acordo com o INE e analisando os últimos anos, em termos de valor total de venda de máquinas, se considerarmos apenas as máquinas europeias e japonesas, a nossa quota ronda os 40-50%. 30-35% se considerarmos também as asiáticas, cujas vendas, nos últimos anos, têm vindo a crescer.

Dos investimentos realizados nos últimos anos, quais gostaria de destacar?

Um dos mais importantes foi, sem dúvida, o investimento no equipamento para o everQ, o processo de calibração e certificação das máquinas da Engel, em que ajustamos os parâmetros da máquina (como a velocidade, pressão e temperatura), de forma a garantir uma performance consistente e reproduzível. Para tal, usamos um equipamento externo, calibrado e certificado e, no final, emitimos um certificado de calibração. Nos dias que correm, em que os clientes dos nossos clientes são cada vez mais exigentes, este serviço é uma mais valia importante.

Entretanto, fizemos também um investimento significativo em obras de qualificação nas nossas instalações, com o objetivo de aumentar a nossa capacidade de resposta, principalmente no campo da formação. Até aqui, temos realizado as formações em casa do cliente (de operação de máquinas e robôs, e de manutenção). A partir de agora, passamos a poder fazê-lo também na Equipack. Temos uma sala, uma máquina e um robô exclusivamente dedicados a este tipo de ação.

Que razões vos levaram a realizar esse investimento?

Atualmente, uma das grandes dificuldades das empresas é conseguir mão de obra qualificada. Trata-se, aliás, de um problema transversal a todos os setores e a toda a Europa. Neste contexto, parece-me essencial podermos fornecer o serviço de formação ao cliente, principalmente se esta for dada fora do ambiente habitual do operador.

Este é um tema a que a Engel está muito atenta. As ações de formação são uma constante diária nas suas instalações, frequentadas por formandos de todo o mundo, e quem pretender pode ir ao site da empresa e inscrever-se na formação em inglês ou alemão. A nossa será ministrada, naturalmente, em português.

Para quando está prevista a primeira ação?

Talvez ainda façamos alguma este ano, mas queremos arrancar em pleno em janeiro de 2024.

Na vossa atividade - de venda de máquinas e periféricos a empresas que trabalham 24/7 -, uma assistência técnica rápida e eficaz é muitas vezes determinante. Esta é também uma aposta da Equipack?

O pós-venda sempre foi uma das principais preocupações e uma aposta forte tanto da Engel como da Equipack. Hoje, temos uma equipa de oito pessoas exclusivamente dedicada à assistência técnica, que inclui o arranque das máquinas, a assistência corretiva e preventiva. Nos últimos anos, a Engel desenvolveu um programa de assistência preventiva igual em todo o mundo, o serviço Care, que é cada vez mais exigido pelas OEMs, como forma de garantia de manutenção da máquina.

Em Portugal, este tipo de manutenção ainda é pouco valorizado. Num automóvel, os sinais luminosos que nos indicam que é necessário ir à oficina são respeitados. Nas máquinas, que são as que produzem riqueza, isso não acontece. Nós temos vindo a tentar sensibilizar os nossos clientes para a importância deste programa e a verdade é que, atualmente, já utilizamos o Care em cerca de 15% dos equipamentos instalados.

A Equipack vai passar a realizar ações de formação nas suas instalações a partir de janeiro de 2024

A Equipack vai passar a realizar ações de formação nas suas instalações a partir de janeiro de 2024.

Pela sua análise, quais são, neste momento, as principais preocupações e necessidades dos transformadores de plásticos nacionais?

Creio que têm, praticamente, as mesmas preocupações que as empresas dos outros setores. Refiro-me à atual instabilidade geopolítica, que causa uma grande incerteza nos negócios, à inflação, que baixa obrigatoriamente o consumo, e ao elevado preço do crédito.

No caso concreto do nosso setor, a tudo isto acresce a má reputação dos plásticos. Quando dizemos que trabalhamos nesta indústria, muitos olham-nos como se fossemos os grandes inimigos do planeta. As pessoas nem se apercebem da quantidade de plástico que têm em casa, nos automóveis, nos eletrodomésticos, nem de como seria a sua vida sem o plástico. Não faz qualquer sentido voltarmos a ter de transportar embalagens de vidro, por exemplo. É óbvio que há um caminho a fazer para aumentar a reciclagem e reutilização. Na Europa temos dado passos importantes nesse sentido, que ainda não se verificam em outras partes do mundo. Enquanto isso não mudar, a imagem do plástico não mudará.

Em relação às necessidades do setor, penso que a principal é mesmo a de mão de obra. Muitas empresas têm vindo a apostar na automatização, como forma de compensar a falta de pessoal. Vemos estas soluções em diversos pontos das linhas: no manuseamento da peça, no controlo de qualidade, no embalamento, entre outros.

E, de que forma está o setor a evoluir, depois da montanha russa dos últimos anos?

Acho que ainda estamos na montanha russa. Um dos principais indicadores disso mesmo é o estado da indústria de moldes que, nesta fase, ainda não tem trabalho suficiente para ocupar o aumento da capacidade instalada nos últimos anos. Isto é reflexo, por um lado, da deslocação de muita produção para países da Europa de Leste e para o México. A incerteza que afeta os mercados e o facto de estarmos na ponta da Europa, com as consequentes dificuldades logísticas, não ajudam. Seria importante, por exemplo, termos uma forma de colocar os produtos no centro da Europa através de ferrovia, um meio de transporte rápido e mais ecológico que o tradicional camião.

Esta evolução reflete também mudanças nos principais setores cliente? Em que fase está, por exemplo, a indústria automóvel?

Eu diria que está numa fase estranha. Por um lado, vemos que há imenso potencial nas inovações que os fabricantes têm vindo a apresentar, como as novas formas de alimentação, a condução autónoma ou a própria evolução na iluminação LED. Destes projetos deveriam sair novas tecnologias de injeção e mais peças para incorporar eletrónica e sensores, por exemplo.

Mas, talvez condicionada pela recessão na Alemanha e pelas questões ambientais, que levam muitos consumidores a adiar a compra de carro, a evolução na indústria automóvel não está a acontecer com a velocidade que esperávamos e Portugal estará também a sentir isto.

Neste momento, a situação só pode melhorar. E tenho a sensação que isso já está a acontecer.

A evolução da indústria automóvel tem potencial para transformar o setor dos plásticos, mas está a ser mais lenta do que se esperava

Falemos um pouco da vossa parceria com a Engel. Como é trabalhar com uma das principais referências mundiais em máquinas de injeção de plásticos?

Somos agentes da Engel há quase 30 anos. Esta longa parceria dá-nos muita confiança, mas também muita responsabilidade e exigência, quase como se fossemos uma subsidiária. Isto, acima de tudo, deixa-nos muito orgulhosos e motivados para continuar o nosso trabalho com a marca.

Acho que o facto de se tratar de uma empresa familiar tem muita influência. Nós sabemos que, sempre que é necessário, temos do outro lado pessoas com quem falar. Inclusive, participamos em reuniões importantes, de discussão de budget, de vendas, de formação, tal como as subsidiárias da empresa. Existe uma relação de total confiança entre nós. E isso é muito gratificante.

A Engel tem vindo a apresentar diversas soluções de software para otimização dos processos de injeção, nomeadamente, com incorporação de reciclado. Este tipo de solução tem tido boa aceitação entre os clientes nacionais?

A Engel desenvolveu esses programas para facilitar a vida aos operadores e, de alguma forma, colmatar a falta de mão de obra qualificada. Softwares como o IQ clamp control, o IQ melt control e o IQ temp permitem tirar o máximo partido das máquinas, de uma forma automática. Tal como o IQ weight control, que ajuda a estabilizar o processo de injeção, principalmente com incorporação de reciclado. Qualquer um deles é uma grande mais valia para as empresas.

De uma forma geral, os nossos clientes têm recebido bem estas soluções. Muitos têm alguma relutância inicial, já que alguns destes softwares são pagos, mas quando adquirem o primeiro e percebem as vantagens, acabam por comprar outros. Claro que, para tirar o máximo partido destas ferramentas, elas têm de ser realmente usadas, e de uma forma consistente. Por isso, também temos previstas ações de formação nesta área.

Além desta, quais são as principais tendências nos equipamentos de transformação de plásticos?

Na injeção, o grande desafio é fazer peças com menos consumo de energia e com zero rejeitados, ou seja, fazer da indústria de plásticos uma indústria sustentável. Neste campo, a Engel acaba de ser reconhecida pela Ecovadis como umas das empresas mais sustentáveis do mundo, muito graças ao investimento em equipamentos que respondem a essas exigências.

No que respeita ao consumo energético, há muito a ideia de que as máquinas elétricas são as mais eficientes, mas não é obrigatoriamente assim. Depende da aplicação. Por exemplo, para produzir uma peça que precise de uma compactação alta, uma máquina hidráulica equipada com o EcoDrive gasta menos energia.

Portanto, acho que, apesar de termos cada vez mais elétricas no mercado, as duas tecnologias vão continuar a coexistir.

E nos periféricos?

A filosofia é muito semelhante. As marcas apostam cada vez mais em equipamentos com alta eficiência energética e com integração nas máquinas e nas células produtivas, de acordo com o conceito da indústria 4.0.

Que novidades podemos esperar da Equipack e das suas representadas nos próximos tempos?

Todas as nossas representadas estão a apostar bastante nestes dois pontos, da eficiência energética e da indústria 4.0. Por isso, acredito que, nos próximos tempos, sejam lançadas novas ferramentas relacionadas com estas duas áreas. Sempre com o intuito de ajudar os clientes a poupar recursos e a aumentar a produtividade.

Numa nota final, com vê o futuro do setor da injeção em Portugal?

Nos últimos anos, notamos que há menos projetos de injeção em Portugal. A nossa expectativa, claro, é que essa tendência se inverta. E acho que é isso que vai acontecer. Este mês já notámos alguma aceleração nas vendas, tal como a própria Engel que, inclusive, nos deu conta de um muito bom ambiente de negócios na Fakuma, decorrida a meados de outubro. Esperemos que esta tendência se mantenha e que se encontre uma solução para os atuais problemas geopolíticos que, além da óbvia questão humanitária, não trazem nada de bom para a economia mundial.

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