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Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa

"Para desenvolver soluções mais sustentáveis, em 2021, comprometemo-nos a investir, anualmente, cerca de 100 milhões de euros, durante os próximos cinco a dez anos"

Entrevista a Ingrid Falcão, Sustainability Manager da Tetra Pak Iberia

Alexandra Costa26/06/2024
Que embalagens inovadoras existem no mercado português? Recentemente, a Tetra Pak e a Lactogal anunciaram uma nova embalagem, disponível apenas no nosso país, 90% renovável. A produção à escala industrial está prevista para 2025. Numa era em que a segurança alimentar é um tema-chave, até quando falamos em desenvolvimento de países periféricos ou conflitos, a sustentabilidade não é - obviamente - de menor importância e o esforço da indústria em diminuir a pegada de carbono dos seus produtos tem sido promovido através de tecnologia e inovação, associada à utilização de matérias-primas de origem vegetal, em contraponto com os plásticos de origem fóssil. Alguns dos temas que a Interplast abordou na entrevista com Ingrid Falcão.
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O que tem mudado no mundo das embalagens e o que está a direcionar essa mudança?

Por um lado, existe uma preocupação crescente dos consumidores por soluções sustentáveis de embalagens, às quais os nossos clientes estão empenhados em responder. Por outro lado, a nível europeu, têm sido introduzidas regras que regulam o tipo de embalagens que podem ser colocadas no mercado, associadas igualmente à gestão dos resíduos. Hoje, todas as embalagens colocadas no mercado da União Europeia têm de cumprir requisitos essenciais relacionados com o seu fabrico, composição e natureza reutilizável ou renovável.

Enquanto líderes na indústria, temos investido para responder a todos estes desafios e até nos antecipamos, por exemplo, no cumprimento da Diretiva de Plástico de Utilização Única (SUP) da União Europeia, que, a partir de julho de 2024, obriga que as tampas passem a estar unidas à embalagem. A Tetra Pak lançou as primeiras tampas unidas para embalagens de cartão para bebidas do mercado em 2022. Esta novidade representou uma conquista importante no trabalho de longo prazo da empresa no ecodesign.

Hoje, as nossas embalagens são produzidas, na sua maioria, a partir de matérias-primas renováveis, como o cartão proveniente de madeira de florestas com certificação FSC® (Forest Stewardship Council®) e outras fontes controladas. Além disso, estamos a introduzir plásticos de origem vegetal, provenientes da cana-de-açúcar, com o selo Bonsucro, em substituição dos plásticos de origem fóssil. Através da utilização destes polímeros, é possível aumentar a percentagem de materiais renováveis nas embalagens da Tetra Pak, contribuindo para reduzir a pegada de carbono ao longo do ciclo de vida do produto, com certificação Carbon Trust.

Outras evoluções que temos introduzido são as palhinhas de papel, em substituição das palhinhas de plástico. Neste campo, destacamos a produção da fábrica de Carnaxide da Tetra Pak, que tem uma vocação internacional bastante grande. No ano passado, cerca de 92% da produção destinava-se à exportação, para mercados como o Reino Unido (17%), Alemanha (9%), Guatemala (8%), Canadá (7%) e Costa Rica (6%).

Mais recentemente, Portugal também esteve no centro de um importante lançamento de uma embalagem com uma barreira alternativa de papel, feita com, aproximadamente, 80% de cartão. O conteúdo renovável é de 90%, o que permite reduzir a sua pegada de carbono em um terço (33%).

Qual o caminho seguido pela Tetra Pak e qual o investimento anual em I&D?

A primeira embalagem de cartão para bebidas com certificação FSC® remonta a 2007, enquanto a primeira tampa com plástico de origem vegetal foi apresentada em 2011. Pouco tempo depois, em 2015, introduzimos no mercado a primeira embalagem Tetra Rex® fabricada a partir de fontes renováveis.

No caminho da sustentabilidade, em 2019, conseguimos obter a certificação Bonsucro e passámos a disponibilizar palhinhas de papel. Em 2020, anunciámos a primeira embalagem neutra em carbono com o selo da Carbon Trust.

Para ajudar no cumprimento das nossas metas de aumentar o uso de materiais reciclados, começámos a utilizar polímeros reciclados certificados. A primeira embalagem com plástico reciclado e certificado é de 2021. Outros dos marcos são as tampas unidas às embalagens, em 2022, e a barreira alternativa de papel (em 2023 iniciou-se um projeto de validação tecnológica em larga escala atualmente em curso.

A sustentabilidade é um dos quatro pilares da estratégia de nossa empresa para 2030 e o tema está incorporado nas nove unidades de negócio. Como temos um claro compromisso com o futuro e uma ambição estratégica de liderar a transformação da sustentabilidade na indústria, adotámos uma abordagem holística em cinco áreas interligadas: circularidade, sistemas alimentares, clima, natureza e sustentabilidade social.

Para desenvolver soluções mais sustentáveis, em 2021, comprometemo-nos a investir, anualmente, cerca de 100 milhões de euros, durante os próximos cinco a dez anos. Já no ano passado, a Tetra Pak investiu cerca de 40 milhões de euros para acelerar a reciclagem das embalagens de cartão para bebidas a nível mundial e planeia aumentar ainda mais este valor nos próximos anos para alcançar uma maior circularidade dos materiais.

A inovação para a sustentabilidade é central no caminho que estamos a fazer para criar a embalagem mais sustentável do mundo: renovável, reciclável e neutra em carbono. Fruto de investigação e colaboração com os nossos clientes, fornecedores e instituições de ensino, procuramos desenvolver soluções que contribuam para um futuro mais sustentável. Prova disso é que, em todo o mundo, a Tetra Pak tem seis centros de I&D.

Através deste trabalho, estamos a promover a criação de um ecossistema de inovação que abra novas oportunidades nas áreas do acesso, segurança e sustentabilidade alimentar.

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Como serão as embalagens do futuro? O que isso implica quer para os fabricantes/embaladores, quer para o consumidor final?

O nosso objetivo é criar a embalagem para alimentos e bebidas mais sustentável do mundo, uma embalagem produzida exclusivamente com materiais renováveis ou reciclados, de origem responsável, totalmente reciclável, neutra em carbono e sem que isso comprometa a segurança alimentar. É importante referir que os desafios de sustentabilidade que enfrentamos no nosso planeta estão todos interligados e, juntos, contribuem para as alterações climáticas. Até 2050, espera-se que a população mundial cresça mais de 25%, o que aumentará a procura de bens alimentares. Como indústria, temos de trabalhar juntos, ao longo da cadeia de valor, e tomar medidas coletivas que possam ajudar na descarbonização e na transformação dos sistemas alimentares mundiais, que são responsáveis por mais de 1/3 das emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE) e, ainda assim, 1/3 de todos os alimentos produzidos é perdido ou desperdiçado.

As novas embalagens são 100% recicláveis ou feitas de material reciclado? Há matéria-prima suficiente no mercado?

A nova embalagem não utiliza material reciclado, mas sim materiais renováveis, em concreto cartão e polímeros de origem vegetal, obtidos a partir de fontes responsáveis. Depois, pode ser reciclada através do ecoponto amarelo, como as restantes embalagens da Tetra Pak.

Sobre as matérias-primas, o fornecimento responsável é uma das principais áreas em que trabalhamos para abordar os impactos de nossa cadeia de valor na natureza. Aquilo que estamos a fazer é colaborar com a nossa cadeia de abastecimento para melhorar a rastreabilidade e a transparência do fornecimento, através da utilização de fontes controladas e certificadas.

Quais as vossas metas no que concerne à pegada de carbono?

As metas definidas até 2030 incluem zero emissões de GEE e eletricidade 100% renovável nas nossas operações. Até lá, continuamos a fazer progressos e, no último Relatório de Sustentabilidade da Tetra Pak, comunicámos a redução em 39% das emissões operacionais de GEE e 84% da energia utilizada globalmente tinha origem em fontes renováveis.

Por outro lado, foram vendidas 11,9 mil milhões de tampas e mais de 8,8 mil milhões de embalagens com plástico de origem vegetal a nível mundial – destas últimas, 2 mil milhões correspondem à Península Ibérica. O compromisso com a utilização de materiais de origem vegetal resultou numa poupança de 131 quilotoneladas de CO2.

Até 2050, vamos trabalhar em conjunto com nossos fornecedores, clientes e outras partes interessadas para obter zero emissões de GEE na nossa cadeia de valor. Para garantir a avaliação do impacto da nossa cadeia de valor e a aprovação dos nossos planos de zero emissões líquidas pela iniciativa Science Based Targets (SBTi), para limitar o aquecimento global a 1,5 graus celsius, somos uma das 59 empresas inscritas inicialmente e essa conquista é a base para as metas estratégicas que estabelecemos.

Por tudo isto, a Tetra Pak foi nomeada Líder Climática Europeia 2023 pelo Financial Times, tendo sido reconhecida pelo seu progresso na redução das emissões de GEE e pelo seu forte compromisso com a ação climática. A Tetra Pak ficou entre os 20% das 500 melhores empresas da lista, obtendo uma redução absoluta de 54,3% das emissões num período de cinco anos, destacando a sua inclusão regular entre as empresas da lista A do CDP e os seus objetivos de zero emissões líquidas aprovados pela SBTi.

Resumidamente, é importante sublinhar que a descarbonização dos sistemas alimentares exige reduzir a pegada de carbono em toda a cadeia de valor de alimentos. Portanto, os esforços devem ser concentrados em quatro áreas principais: embalagens, operações, operações de clientes e matérias-primas.

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Quais os maiores desafios atuais e futuros para empresas como a Tetra Pak?

Como já referimos, os desafios de sustentabilidade estão todos interligados e, juntos, contribuem para as alterações climáticas. Por isso, o nosso foco está nos temas da reciclagem e circularidade, com as nossas embalagens de cartão a serem recicláveis, sempre que existam infraestruturas de recolha, triagem e reciclagem adequadas. Onde as infraestruturas de recolha ainda estão em desenvolvimento, fazemos uma aposta própria e coinvestimos com recicladores em novos equipamentos e instalações para aumentar a capacidade de reciclagem.

Além disso, colaboramos com diversos stakeholders com o objetivo de desenvolver o mercado de materiais reciclados. Temos também desenvolvido as nossas embalagens de cartão para aumentar o conteúdo de fibra e a utilização de materiais reciclados.

Outro desafio é a descarbonização dos sistemas alimentares e também a resiliência destes, para aumentarmos o acesso a alimentos de forma segura e reduzir o desperdício. A nível de metas, a Tetra Pak tem a ambição de atingir zero emissões de GEE nas nossas operações até 2030 e em toda a cadeia de valor até 2050. Com este compromisso, esperamos influenciar de forma positiva os nossos parceiros, mas também outros players da indústria. Paralelamente, dispomos de serviços especializados para otimização de fábrica na área de processo de alimentos (lacticínios, sumos ou néctares). Estes serviços ajudam os nossos clientes a reduzir o consumo de água, de energia e o desperdício.

Um desafio adicional é a proteção e restauração da biodiversidade. Desta forma, é preciso reafirmar o repto para trabalharmos, em conjunto, em prol da natureza. A indústria deve ter cadeias de fornecimento responsáveis e fazer uma utilização eficiente de recursos como a água, de forma a minimizar os danos nos ecossistemas.

Consideram que o consumidor português está suficientemente informado no que concerne à reciclagem e sustentabilidade, nomeadamente aos comportamentos e hábitos?

A evolução tem sido positiva, mas precisamos de reforçar hábitos e continuar a apostar na sensibilização para aumentar as taxas de reciclagem, que continuam abaixo da média europeia. No ano passado, os portugueses encaminharam para reciclagem um total de 460.285 toneladas de embalagens, ou seja, verificou-se quase uma estagnação comparativamente ao ano anterior, de acordo com os dados do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagem (SIGRE). Isto significa que, se a tendência verificada nos últimos anos se mantiver, Portugal não vai conseguir alcançar a nova meta definida para 2025.

No caso específico da reciclagem das embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL), também continuamos abaixo da média europeia e é por isso que a Tetra Pak tem desenvolvido ações de sensibilização, direcionadas a diferentes targets: consumidor final, comunidade escolar, clientes, entidades gestoras de resíduos, entre outros. Temos realizado diversas iniciativas com o objetivo de incentivar e contribuir para o aumento das taxas de reciclagem das ECAL no ecoponto amarelo. Como exemplo, a ação com a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares e a ação com a Refood que além de terem contribuído para o aumento da taxa de reciclagem das ECAL (mais 7,2 por cento face a Outubro de 2022), tiveram também um impacto positivo em centenas de pessoas em condição mais vulnerável

O nosso objetivo é claro: aumentar as taxas de reciclagem e contribuir para uma economia circular. Por exemplo, as fibras de papel resultantes do processo de reciclagem podem ser utilizadas para produzir papel reciclado de alta qualidade, muito resistente, como é o exemplo do papel kraft. A partir daqui, vários produtos podem ser produzidos, nomeadamente sacos de papel, papel ondulado, caixas de cartão, caixas de ovos, etc.. Estes têm a capacidade de ser novamente reciclados.

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