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Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa

Se queremos ter plástico, é preciso ter juízo

Carolina Borges, investigadora em Materiais e Estruturas Compósitas no INEGI

03/07/2024
Faz parte de um setor que transforma ou comercializa plásticos de uso único? Então este texto é para si. Vejamos porquê: estamos na iminência de viver num mundo onde o uso de matéria-prima virgem vai diminuir consideravelmente e este não é um cenário longínquo; e o preço do petróleo tem vindo a atingir máximos históricos, pois as cadeias de abastecimento de materiais, como a nafta, são incertas e inconstantes devido ao aumento exponencial da procura.
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A par disto, a legislação nacional que brota das diretivas europeias está cada vez mais restritiva. Já é, por exemplo, proibida a venda de certos plásticos de uso único – como talheres, pratos e palhinhas – e as empresas de produção de embalagens são agora obrigadas a pagar parte da fatura da limpeza de plásticos descartáveis1.

Afinal, os plásticos de uso único - comummente utilizados no fabrico das embalagens - representam um terço da produção global de plásticos e têm ciclos de vida extremamente curtos, transformando-se rapidamente em resíduos. Mudar este contexto significa assegurar que todas as embalagens plásticas colocadas no mercado da União Europeia possam ser reutilizáveis, compostáveis, biodegradáveis e recicláveis.

O ónus da mudança está na indústria e nas empresas, que têm de se reinventar e investir no desenvolvimento de soluções mais sustentáveis - quer a nível do material, quer a nível do design do produto e do seu desempenho - para melhorar a sua competitividade. Mas por onde começar?

R de Redução para evitar a produção do resíduo

O desafio é transitar de uma economia linear para uma economia mais circular, que permita manter os materiais num loop através da sua redução, reutilização, reincorporação e reciclagem.

A redução é o primeiro dos três Rs a priorizar. Diminuir a quantidade de matéria-prima utilizada no fabrico, de modo a garantir as propriedades finais do produto, requer uma aposta na inovação, mas não é um quebra-cabeças. Esta redução pode ser promovida com base em diferentes conceitos:

  • Eco-design: o desenvolvimento do produto inclui critérios ecológicos em todas as suas fases – desde a extração de matérias-primas, design, desenvolvimento, produção, distribuição, consumo, descarte e reintegração no loop cíclico – promovendo uma maior consciência para a finitude dos recursos e gerando valor para as partes envolvidas;
  • Reciclagem de materiais pós-consumo e utilização no fabrico do novo produto, diminuindo a quantidade de matéria-prima virgem requerida.

No INEGI, adotámos este modo de pensar e privilegiamos o desenvolvimento do produto através de metodologias de eco-design, suportadas por ferramentas computacionais que permitem selecionar a matéria-prima mais promissora e reduzir a sua quantidade no fabrico de novos produtos. Isto acontece através de processos iterativos que determinam a distribuição adequada do material no produto, permitindo definir onde e quanto material pode ser removido sem impactar o desempenho final.

R não só de Reciclagem mas também de Repensar

Em fim de linha, a reciclagem é o processo mais desafiante. Apesar da imaginação coletiva olhar para este procedimento como a única resposta à crise ambiental, a reciclagem não é um simples reprocessamento. Requer um profundo conhecimento sobre a ciência de materiais e as metodologias de composição, de modo a assegurar o desenvolvimento de materiais reciclados de elevada qualidade e com as características físicas, químicas e óticas requeridas para as novas aplicações.

Além disso, a quantidade de material pós-consumo a ser reincorporado em novas formulações e o número de vezes que o material pode ser (re)submetido a diversos ciclos termo-mecânicos, sem perda significativa de propriedades, devem ser devidamente avaliados. Isto não significa que a reciclagem deve ser encarada como uma perda de tempo. Deve, sim, ser o ponto final que remata uma estratégia que já contempla a redução, a reutilização e a reincorporação de materiais.

A Reciclagem não é toda igual

A reciclagem mecânica é um processo com elevado nível de maturidade tecnológica, requer baixo investimento em infraestrutura e é, por isso, uma boa opção para fluxos controlados de materiais pós-consumo, como é o caso das embalagens plásticas no seu fim-de-vida.

A reciclagem mecânica destes materiais segue várias etapas:

  • Pré-tratamento, como a separação e/ ou lavagem para remoção de contaminantes e outros polímeros;
  • Trituração dos materiais e o seu reprocessamento para homogeneização, através de extrusão onde o material é amolecido/fundido na presença de aditivos específicos para melhoria das propriedades finais do material reciclado.

Ao contrário da reciclagem mecânica, a reciclagem química ainda não é uma opção viável a nível tecnológico, nem competitiva a nível de investimento. Atualmente, é também pouco amiga do ambiente, devido ao uso de solventes tóxicos e elevados consumos energéticos. É, porém, uma tecnologia complementar e alternativa para materiais que não possam ser reciclados por outra via. É o caso de produtos constituídos por polietileno tereftalato (PET), como garrafas de água, aparelhos médicos, entre outros.

Na reciclagem química do PET, vários solventes podem ser utilizados para uma dissolução eficaz, como a água, aminas e álcoois. De entre todos, a glicólise é uma das técnicas mais promissoras à escala industrial, por utilizar um solvente menos volátil (etileno glicol) e condições de reação moderadas.

Neste processo de decomposição solvolítica, o PET divide-se nos seus monómeros, eliminando a dependência do petróleo para a sua produção. Empresas, como a DuPont e a Dow Chemicals, já têm instalações comerciais para reciclagem química por glicólise.

Inovação é o motor da competitividade e sustentabilidade

Posto isto, certamente, não continuará a olhar para os plásticos de pós-consumo como resíduos. Conhecendo este potencial de valorização, da próxima vez que olhar para os desperdícios, não conformidades e excedentes produtivos da sua fábrica, verá valor e não 'lixo'. Poderá, até, repensar as suas linhas produtivas e identificar com mais clareza oportunidades para diminuir a quantidade de 'resíduos' gerados e para integrar ferramentas de auxílio à tomada de decisão.

Esta nova visão, certamente, ajudá-lo-á a antecipar imposições legislativas e riscos de abastecimento para poder estar sempre um passo à frente da competição. Acima de tudo, que este texto sirva de alerta: não aposte todas as suas fichas nas petroquímicas como única opção para aceder a matéria-prima virgem e não deixe a procura de alternativas para quando já for tarde de mais.

Referências

[1] As medidas da UE para reduzir os resíduos de plástico. Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/topics/pt/article/20180830STO11347/como-reduzir-os-residuos-de-plastico-as-medidas-da-ue. Acesso em 13.06.2024

[2] Bernat Katarzyna. Post-Consumer Plastic Waste Management: From Collection and Sortation to Mechanical Recycling. Disponível em: https://www.mdpi.com/1996-1073/16/8/3504. Acesso em 13.06.2024

[3] Jia Zixian; Gao Lin; Qin Lijiao; Yin Jianzhong. Chemical recycling of PET to value-added products. Disponível em: https://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2023/su/d3su00311f. Acesso em 13.06.2024

[4] RGhosal Krishanu. Recent advances in chemical recycling of polyethylene terephthalate waste into value added products for sustainable coating solutions – hope vs. hype. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/357762246_Recent_Advances_in_Chemical_Recycling_of_Polyethylene_Terephthalate_Waste_into_Value_Added_Products_for_Sustainable_Coating_Solutions-_Hope_Vs_Hype. Acesso em 13.06.2024

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