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Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa

Cláudia Cristóvão, diretora-geral do Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP)

“O PIEP está 100% comprometido com a inovação sustentável e a economia circular dos plásticos”

Luísa Santos13/03/2025

Nos últimos 25 anos, muito mudou na forma como a indústria e os centros de I&D interagem, com cada vez mais empresas a aproveitarem o conhecimento e a tecnologia neles instalada. Criado no ano 2000 para dar resposta às necessidades específicas da indústria de plásticos nacional, o Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros reflete esta realidade e orgulha-se de, até à data, ter realizado “mais de 350 projetos de investigação e inovação”, os mais recentes relacionados com o desenvolvimento de materiais sustentáveis, como nos conta Cláudia Cristóvão. Em entrevista, a diretora-geral do PIEP recorda o crescimento da instituição ao longo destes 25 anos e avalia o sucesso de iniciativas como a Academia PIEP, “claramente, uma aposta ganha”.

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O PIEP celebra este ano 25 anos de existência. Como avalia o percurso da instituição desde a sua fundação?

O Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) tem percorrido um caminho de crescimento e consolidação como o principal centro de inovação no setor dos polímeros em Portugal. Desde a sua fundação em 2000, surgiu como uma resposta direta às necessidades da indústria, servindo de interface entre a Universidade do Minho e as empresas. Ao longo dos anos, a instituição evoluiu significativamente, apostando em inovação, transferência de tecnologia e formação avançada.

Alguns dos nossos marcos importantes incluem a consolidação de uma infraestrutura tecnológica de mais de 3.000 metros quadrados em Guimarães, com laboratórios e equipamentos de excelência, fruto de um investimento superior a 20 milhões de euros ao longo dos anos. O PIEP também se destacou pelo seu impacto no setor, desenvolvendo mais de 350 projetos de investigação e inovação, acumulando mais de 250 publicações científicas e conquistando uma rede de mais de 700 clientes.

Em 2024, atingiu o seu maior volume de negócios, superando os 5,3 milhões de euros, o que reflete o crescimento da instituição. Os desafios ao longo do percurso incluíram a necessidade constante de adaptação às mudanças do setor, às exigências regulatórias e à crescente preocupação com a sustentabilidade e a economia circular, como por exemplo o apoio às empresas na adaptação às novas regras recentemente lançadas pela União Europeia para as embalagens e resíduos de embalagens no mercado europeu.

A relação entre a indústria e os centros de I&D mudou muito nestes 25 anos? Quais são, atualmente, as principais expectativas das empresas em relação a centros como o PIEP?

A relação entre a indústria e os centros de I&D tornou-se mais estreita e dinâmica nos últimos 25 anos. Inicialmente, muitas empresas viam os centros de investigação como entidades distantes, focadas em projetos de longo prazo sem aplicação imediata. No entanto, a exigência por inovação acelerada e soluções práticas fez com que essa relação evoluísse para um modelo mais colaborativo.

O PIEP posicionou-se como um parceiro essencial para a indústria, focado na investigação aplicada e na resposta rápida às necessidades do mercado. Atualmente, as empresas esperam não apenas inovação tecnológica, mas também soluções sustentáveis e eficientes, sendo a procura por materiais recicláveis, biopolímeros e processos de produção mais ecológicos uma prioridade, e o PIEP tem trabalhado para responder a essas novas exigências.

Atualmente, o PIEP apresenta-se como um parceiro estratégico para a indústria em diversas áreas. Concretamente, que valências oferecem ao mercado?

Sim, é verdade, o PIEP oferece um leque diversificado de serviços e competências que estão ao dispor das empresas. A nossa capacidade de atuação em diferentes setores de aplicação assenta não só na capacidade tecnológica que temos, mas muito no conhecimento que possuímos ao nível dos materiais sustentáveis e de elevada performance, do ecodesign de produtos e soluções, da transição climática, dos processos avançados de fabrico, das soluções de materiais compósitos, dos serviços de teste e ensaios e diagnósticos de falha, até à educação e formação avançada para a indústria, que está a ser dinamizada pela Academia PIEP, criada no final de 2023. Estas valências permitem-nos apoiar a indústria na criação de produtos mais eficientes, sustentáveis e competitivos.

O PIEP conta atualmente com uma infraestrutura tecnológica de mais de 3.000 metros quadrados, instalada em Guimarães...

O PIEP conta atualmente com uma infraestrutura tecnológica de mais de 3.000 metros quadrados, instalada em Guimarães.

As empresas procuram cada vez mais soluções tecnológicas que agreguem valor e promovam a inovação. Para que tipo de projetos a indústria mais vos procura? Alguma tendência específica se destaca?

O PIEP tem trabalhado em projetos de grande relevância para setores como o automóvel, aeronáutica, espaço e defesa, naval, energia, embalagem, saúde e dispositivos médicos. Entre as principais tendências recentes, posso destacar o desenvolvimento de novos materiais recicláveis e biodegradáveis, a aplicação de polímeros de alta performance em componentes estruturais, o fabrico aditivo e impressão 3D para a produção de componentes de elevada performance e os projetos ligados à economia circular, como a valorização de resíduos industriais.

O setor dos plásticos está a passar por uma grande transformação devido às exigências ambientais e regulatórias. Como é que o PIEP tem contribuído para o desenvolvimento de materiais biodegradáveis e compostáveis, especialmente no contexto dos plásticos de uso único?

O Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros participa atualmente em mais de 30 projetos de investigação, desenvolvimento e inovação na área dos polímeros sustentáveis, dos quais cinco são internacionais e outros estão inscritos em agendas e pactos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Estes projetos, com um montante de financiamento no valor de 14 milhões de euros, testemunham a liderança, compromisso e a capacidade do PIEP para criar soluções ecologicamente seguras, com foco no desenvolvimento de novos polímeros reciclados, biopolímeros e materiais biocompostáveis.

Trata-se de um conjunto de projetos inovadores, que reúnem as equipas de especialistas do PIEP e parceiros, sendo alguns desenvolvidos em consórcio com várias entidades, tendo como objetivo reduzir os resíduos de materiais plásticos e promover práticas sustentáveis na indústria, rumo à economia circular. Entre os vários projetos que contam com a intervenção deste centro de tecnologia e inovação líder estão o ‘Olivepit’ e o ‘Ecoboard’, duas iniciativas pioneiras que trazem avanços significativos na área dos materiais sustentáveis, e o ‘ValorNature’, projeto desenvolvido em colaboração com a Galiza.

O projeto Olivepit, desenvolvido em colaboração com a Sovena, tem o foco na transformação e valorização de caroços de azeitona, um subproduto natural da produção de azeite, em polímeros biodegradáveis. Este projeto visa reduzir e reutilizar o desperdício agrícola ao mesmo tempo que cria alternativas biocompostáveis aos plásticos tradicionais. Está a ser estudado para aplicação na indústria do calçado, mais concretamente para a produção de moldes para sapatos.

O projeto Ecoboard, do qual é parceiro a IKEA Industry Portugal, empresa sueca de mobiliário, explora usos inovadores de resíduos como materiais sustentáveis na produção de placas para o transporte de móveis, oferecendo uma alternativa sustentável ao aglomerado de madeira convencional. O Ecoboard promete revolucionar a maneira como se podem utilizar os recursos, impulsionando a transição global para uma economia circular e diminuindo a pegada ecológica.

A destacar também o ValorNature, um projeto liderado pelo PIEP, que envolveu mais de 50 instituições e empresas do Norte de Portugal e da Galiza para a valorização de subprodutos agroflorestais, marinhos e extrativos em áreas-chave da economia, como automóvel, aviação, naval, construção e desporto. Entre os mais de 30 produtos criados, salientam-se viseiras a partir de cabides usados; trotinetas com laminado de madeira e carbono; novas embalagens para cosmética; móveis diferenciados; cabides reciclados para a Adolfo Dominguez, entre tantos outros criados a partir de materiais como biomassa de giesta, tojo, vide, oliveira, kiwi, casca de mexilhão, pó de pedra e resíduos industriais.

Todos estes projetos vêm demonstrando o compromisso do PIEP com a inovação sustentável e a economia circular.

O projeto Olivepit, desenvolvido pelo PIEP em colaboração com a Sovena, pretende transformar caroços de azeitona em polímeros biodegradáveis...
O projeto Olivepit, desenvolvido pelo PIEP em colaboração com a Sovena, pretende transformar caroços de azeitona em polímeros biodegradáveis, para aplicação na indústria do calçado.

A iniciativa Sustainable Plastics tem sido destacada como um exemplo de inovação no setor. Qual foi, concretamente, o papel do PIEP neste projeto e quais foram os principais desafios e conquistas alcançados?

A iniciativa Sustainable Plastics, promovida pela APIP e liderada pela Logoplaste Innovation Lab, é na verdade uma Agenda Mobilizadora para os Plásticos Sustentáveis em Portugal, financiada pelo PRR, capaz de alavancar a transição do setor para uma economia verdadeiramente circular e mobilizar o setor privado, as autoridades nacionais, as universidades e os cidadãos, contribuindo para os objetivos da Economia Circular Europeia.

O PIEP tem uma participação ativa em nove subprojetos da agenda Sustainable Plastics, nomeadamente nos eixos da 'Circularidade pelo Design de Material', 'Circularidade pelo Design de Produto', 'Circularidade pela Reciclagem' e da 'Circularidade pelas Matérias-Primas Alternativas'. Os resultados à data são muito promissores, com o desenvolvimento de novos materiais e produtos que irão ser colocados no mercado até ao final deste ano.

O PIEP coordena ou participa atualmente em outros projetos inovadores, por exemplo, no âmbito da economia circular e da sustentabilidade?

Sim, podemos destacar o GreenHub, um projeto internacional que visa criar um Centro de Excelência em Economia Circular na Euro-região do Norte de Portugal e Galiza, com o intuito de promover a valorização de resíduos industriais e naturais para aplicações na indústria automóvel, aeronáutica, alimentar, têxtil e construção.

O PIEP lidera este projeto em parceria com a Axencia Galega da Industria Forestal (XERA), o Centro Tecnológico de Automoción de Galicia (CTAG) e o GAIN - Axencia Galega de Innovación, com o objetivo comum de contribuir para a superação dos desafios da Euro-Região do Norte de Portugal e da Galiza em matéria de geração de conhecimento e inovação. Para isso, iremos aproveitar o potencial da cooperação das duas Euro-regiões para consolidar o ecossistema de inovação, científico e tecnológico, fomentando a criação de conhecimento e redes empresariais e a melhoria da competitividade das empresas.

Entendemos que o projeto GreenHub, que será oficialmente anunciado no final do primeiro trimestre deste ano, terá um papel fundamental no aparecimento de novas dinâmicas de cooperação orientadas à criação de novos conhecimentos em domínios como o aproveitamento e valorização do potencial dos recursos e resíduos, bem como o desenvolvimento de produtos de valor acrescentado com um impacto ambiental reduzido, e a criação de novas empresas intensivas em tecnologia e conhecimento na Euro-região.

Estamos certos de que este Centro de Excelência irá promover a criação de novas dinâmicas de I&D+I que garantam a valorização de recursos e resíduos disponíveis da Galiza e do Norte de Portugal com potencial de aplicação na indústria e economia, contribuindo para a competitividade, crescimento e resiliência da Euro-região.

O fabrico aditivo tem ganhado cada vez mais relevância como uma tecnologia disruptiva na produção industrial. O PIEP tem investido nesta área?

Sem dúvida que o fabrico aditivo é uma das tecnologias produtivas que tem apresentado uma maior relevância na produção industrial, principalmente na produção de produtos plásticos. O PIEP tem vindo a utilizar esta tecnologia para desenvolver materiais para utilização na produção de produtos plásticos sustentáveis e de elevada performance, como o filamento plástico com condutividade elétrica desenvolvido para a Agência Espacial Europeia, para o fabrico aditivo de estruturas de CubeSats, mini-satélites mais leves e acessíveis.

Que razões vos levaram a fundar, em 2023, a Academia PIEP?

A Academia PIEP foi criada em parceria com o Departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho e com o apoio da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) para responder aos desafios das empresas, dos profissionais e dos jovens em percurso educativo, através de ações de re-skill, up-skill e desenvolvimento pessoal.

A que públicos se destina esta Academia e que tipo de ações de formação disponibiliza?

Os cursos destinam-se quer a jovens estudantes, ou que pretendam seguir uma carreira no setor, quer a profissionais do setor que tenham como objetivo melhorar as suas competências nalguma área específica. São cursos maioritariamente efetuados num formato híbrido, onde a componente teórica é dada remotamente e a componente prática é efetuada nas instalações do PIEP, na medida em que uma abordagem prática é essencial para alinhar a formação com as necessidades reais das empresas. Neste âmbito, temos vindo a realizar investimentos em infraestrutura e equipamentos, nomeadamente instalações à escala industrial, permitindo a realização de formações imersivas, aproximando desse modo os formandos da realidade operacional. Ao nível das formações, o PIEP tem disponibilizado vários cursos específicos, que vão desde os materiais poliméricos, extrusão e composição de polímeros, termoplásticos e processos de moldação por injeção, design e desenvolvimento de produtos, análise de falhas em produtos em plástico, até à Sustentabilidade e Economia Circular.

Teste de materiais na Academia PIEP
Teste de materiais na Academia PIEP.

É uma aposta ganha? Os vossos cursos têm tido uma boa adesão?

A Academia PIEP é claramente uma aposta ganha. De referir que só no ano de 2024, que foi o nosso primeiro ano de atividade, conseguimos capacitar mais de 100 recursos humanos de 30 empresas e, devido à afluência em alguns cursos de formação, tivemos de abrir uma segunda edição. Esta iniciativa foi bem acolhida por parte das empresas, que reconheceram o PIEP como o seu parceiro de formação avançada dos seus recursos humanos, permitindo capacitá-los de modo a serem capazes de responder aos desafios do setor.

A relação entre a indústria e os centros de I&D tornou-se mais estreita e dinâmica nos últimos 25 anos

Numa altura em que tanto se fala da falta de mão de obra qualificada, este tipo de iniciativa pode fazer a diferença. Que mais haveria a fazer neste contexto?

Sem dúvida que a proposta de valor que a academia PIEP traz para o mercado encontra-se alinhada com a necessidade de qualificação de recursos humanos em áreas específicas que permitam às empresas endogeneizar conhecimento e transformá-lo em valor por via dos produtos, tecnologias e serviços que colocam no mercado. A nossa aposta foi a diferenciação por via da necessidade e potencial de valorização. No entanto, entendemos que ainda conseguimos melhorar a nossa proposta de valor para as empresas, pelo que já iniciamos um processo de auscultação das mesmas, sobre áreas e temas críticos que gostariam de ver endereçados em novas formações, e estamos convictos que este trabalho em rede que estamos a realizar será fundamental para que sejamos bem-sucedidos enquanto parceiro de formação avançada para as empresas.

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