As metas atualmente em discussão incluem a melhoria do design circular dos veículos, com vista à reutilização e reciclagem, a garantia de que, pelo menos, 25% do plástico utilizado seja plástico reciclado (sendo 25% proveniente de veículos em fim de vida) e a recuperação de matérias-primas, como as matérias-primas críticas, plásticos, aço e alumínio. Estas medidas terão um impacto significativo na gestão dos veículos em fim de vida, não só dos automóveis como também de motociclos, camiões e autocarros.
Alcançar estas metas obrigará à existência de sistema de gestão de veículos em fim de vida para que o plástico destes permaneça em ciclo fechado, o que atualmente não é a realidade. Estima-se que cerca de um terço dos veículos em fim de vida se percam, por serem exportados ou depositados ilegalmente. Dos veículos que são tratados, a quantidade de plásticos provenientes de automóveis que são efetivamente reciclados não ultrapassa os 19%, de acordo com a Plastics Europe. As medidas propostas pela Diretiva visam melhorar a circularidade dos veículos e impedir que tais matérias-primas secundárias (plástico, metais, matérias-primas críticas) se percam ou que saiam do território europeu, um território que, por si só, já dispõe de poucos materiais destas naturezas.
A utilização de plásticos reciclados nos veículos é, também, limitada, o que não permite a sua aplicação generalizada no automóvel. O plástico reciclado apresenta diversos desafios que restringem a sua utilização, como a degradação causada pelos raios UV e pelas condições climáticas a que esteve exposto (no caso de plásticos de para-choques). A inconsistência da qualidade constitui igualmente um desafio, pois, mesmo tratando-se do mesmo tipo de plástico, as diferentes fontes podem originar misturas de materiais com características distintas, impossibilitando a sua aplicação. Além disso, os plásticos reciclados têm dificuldade em apresentar o mesmo nível de desempenho que os plásticos virgens, o que pode ser crítico durante a produção das peças.
Analisando as expectativas da revisão da Diretiva, aparentemente não haverá espaço para os plásticos de origem biológica, uma vez que não existe nenhuma meta específica para a sua incorporação. No entanto, os plásticos de origem biológica podem e devem ser considerados na produção automóvel. A utilização de plásticos de origem biológica poderá potencialmente resultar na diminuição da pegada carbónica, pois, durante a sua produção, é retirado dióxido de carbono da atmosfera. Contudo, existem outras condicionantes que podem levar a que este benefício não seja significativo, pois depende de muitos outros fatores, como a origem biológica e o uso do solo associado à produção do material biológico que servirá de base à produção do plástico.
Por esta via podem ser produzidos Bio-PP, Bio-PE, Bio-PET, Bio-ABS, Bio-PA, Bio-PU, idênticos aos plásticos tradicionais e passíveis de serem reciclados, permitindo assim cumprir as metas propostas pela revisão da Diretiva. Destes, os que já se encontram a ser aplicados na indústria automóvel são o Bio-PP e o Bio-ABS, segundo a European Bioplastics. De acordo com a mesma fonte, o teor de carbono de origem biológica não é de 100% em todos os plásticos mencionados, variando entre 20% e 100%, o que poderá atenuar a vantagem ambiental relativa à pegada carbónica. Segundo o relatório da CE Delft intitulado ‘Biobased Plastics in Vehicles’, os plásticos com maior potencial de substituição de plásticos tradicionais pelas versões de base biológica são o PP, PE, ABS/SAN e PA, correspondendo a um potencial de substituição entre 67 e 70%.
O futuro da utilização de plásticos de origem biológica ou de plásticos reciclados será, certamente, um futuro conjunto, no qual ambos terão lugar na indústria automóvel. Haverá aplicações que permitirão o uso de plástico reciclado (do mesmo tipo de polímero, quer seja de origem biológica, fóssil ou de ambas) e aplicações onde o plástico de origem biológica poderá ter bom desempenho. Não só os impactes ambientais, como também o custo das matérias-primas e de produção das peças ditarão o futuro destes materiais neste setor.
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